Mito, crença, tradição ou magia? Quem usa o perfume ou óleo, feito a partir da genitália da bota, garante que faz sucesso.
Para evitarem a fiscalização, o produto ganha novas versões com os nomes: "Agarradinho" ou "Dama da Noite"
Manaus - Entre lendas, costumes e tradições, a Região Amazônica possui diversos misticismos que são pratos cheios para alimentar o imaginário popular.
Histórias como cobras gigantes, Matinta Pereira e até o boto que se transforma em homem para atrair ribeirinhas fazem sucesso até os dias atuais e dão uma pitada de magia na floresta.
O boto inclusive é associado à fertilidade e ao poder de atração.
Contrariando os ambientalistas, ainda é possível encontrar nas feiras de Manaus óleos e perfumes que seriam produzidos a partir dos órgãos sexuais desse tipo de mamífero aquático.
O óleo, ou "perfume da Bota", é usado para aumentar a atração sexual de quem busca conquistar uma companhia amorosa ou apenas parceiros sexuais.
A poção faz sucesso entre as milhares de ervas naturais vendidas no mercado da cidade.
Quem usa, garante que funciona.
No Mercado Municipal Adolpho Lisboa, situado no Centro de Manaus, a comerciante Jaqueline Lobo, 30, trabalha vendendo ervas amazônicas em uma das bancas.
Há pouco mais de 1 ano na atividade, ela conta que o espaço oferece chás para diferentes demandas, além de remédios naturais à base de plantas para limpeza do organismo e também para diversas infecções.
Entretanto, segundo Jaqueline, o carro chefe das vendas são as bebidas, óleos e banhos para aumentar a libido.
Entre as opções, o "perfume da Bota" é considerado uma substância mágica em forma de aroma.
O produto é elaborado com a mistura de algumas ervas, álcool e feromônios da genitália da bota.
O Perfume da Bota é preparado com um pedaço da vagina do animal que é colocado em conserva no álcool.
Posteriormente a substância é misturada a essências
A crença explica que o aroma, resultado da mistura dos ingredientes, "causa" atração sexual entre aqueles que sentem o cheiro na pele de quem usa.
Jaqueline explica que além do perfume, a poção também pode ser aplicada a um lubrificante e usado em relações sexuais.
Independente das formas usadas, a comerciante garante por experiência própria que o produto funciona.
Como devemos usar o perfume da Bota?
Passe o perfume ao longo de todo o corpo, principalmente nas áreas de maior circulação de sangue, como nuca e pulsos.
Enquanto passa o produto, mentalize a atração que você deseja despertar.
Caso vá transar com alguém, você pode usar o perfume do boto nas partes mais próximas a região íntima.
"Se eu soubesse que funcionava mesmo, eu nem tinha usado.
Isso porque agora o boy não quer mais sair do meu pé.
Agora não quero segurar mais nada, quero só curtição.
Mas para quem quer chamar homem ou mulher, o perfume realmente funciona", confirma Jaqueline.
Na banquinha dela é possível encontrar o "perfume da Bota" e a versão da poção em lubrificante íntimo pelo valor de R$ 2,00.
As histórias relacionadas a crendice popular sobre o uso do perfume atravessam gerações.
Ainda de acordo com a vendedora Jaqueline Lobo, a tradição é reflexo de um comportamento que nasceu nas comunidades do interior da Amazônia.
"No interior as pessoas acreditam em uma lenda onde o boto vira um homem e sai da água para namorar com as meninas que ficam na beira do rio.
Por isso a população passou a acreditar que usar a essência íntima da bota colabora para arrumar um parceiro, que sente o cheiro dos feromônios aplicados junto com o perfume", explica a comerciante.
Crime ambiental
Em alguns locais no Centro de Manaus, onde é possível adquirir os produtos, comerciantes exibem uma composição orgânica, do que seria a genitália da bota em uma imersão de álcool e essência.
O produto é manipulado a céu aberto e a substância pode ser produzida na hora, a gosto do cliente.
Ao perceberem a chegada da equipe de reportagem, a maioria deles decidiu não se posicionar e alguns garantem que a ação faz apenas parte do misticismo, sem maiores detalhes.
Para evitarem a fiscalização, os comerciantes não colocam mais o nome do animal nos frascos.
O "Perfume da Bota" ou "Óleo da Bota" ganham novas versões com os nomes: "Agarradinho" ou "Dama da Noite".
Responsabilidade ambiental
Mesmo com os inúmeros relatos do poder de encantamento do produto, ambientalistas garantem que o uso desse tipo de produto trata-se apenas de crendice popular, além de ser crime ambiental contra o bicho- que está na lista de animais ameaçados de extinção.
Um dos animais mais importantes do folclore amazônico, o boto cor-de-rosa, entrou para lista vermelha de animais em perigo de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), em dezembro do ano passado.
O principal vilão continua sendo a caça ilegal para a pesca da piracatinga, a captura acidental em redes de pesca e o abate para produção de produtos tidos como "mágicos".
A pesquisadora dos botos da Amazônia, Vera da Silva, que também é responsável pelo projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia, disse - na ocasião da divulgação da lista de extinção - que desde os anos 2000 as pesquisas mostram que a população de botos na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Mamirauá vem reduzindo drasticamente a cada década
"A preocupação maior é a velocidade que esta espécie está sendo retirada da natureza, se isso acontece no entorno de uma reserva protegida, modelo na Amazônia, imagine em uma área sem proteção", indagou a pesquisadora na ocasião.
Ritos
O uso de animais em rituais de medicina popular ainda é muito comum em várias partes do mundo.
Na Amazônia, o boto sofre com a crendice mística que resulta em sua caça.
O biólogo amazonense Rodrigo Hidalgo destaca que as tradições, quase sempre sem nenhum embasamento científico, acabam colaborando para a diminuição das espécies assassinadas propositalmente.
"Essa cultura de usar o 'perfume da Bota' para ficar sexualmente atrativo é bem mais forte no estado do Pará, mas também acontece em Manaus.
Apesar de a crendice gerar um comércio, a atividade é totalmente ilegal pois a legislação de crimes ambientais proíbe a caça aos botos da Amazônia - que já são animais em extinção - e prevê multa e prisão para aos envolvidos", ressalta Hidalgo, biólogo e mestrando em zoologia no Amazonas.
Dicas para ser mais atrativo sexualmente
Rodrigo informa ainda que, quando há intenções de parecer mais atraente para o parceiro (a), é indicado usar ervas medicinais que cientificamente comprovam o aumento da libido no organismo.
"Existem outras formas de interação entre os seres humanos sem gerar dano e morte a esses animais.
Algumas plantas da Amazônia são conhecidas como viagras naturais e são ótimas opções para quem busca estar sexualmente mais ativo", diz o biólogo.
Viagra do Índio
Entre os produtos citados pelo especialista está o viagra regional, também conhecido como 'Viagra do Índio'.
Composto por guaraná, catuaba, ginseng, mirantã e nó de cachorro, a vitamina é um misto de ervas amazônicas que proporciona mais energia, vigor e libido aos usuários.
Em forma de pó, o viagra regional deve ser tomado uma vez ao dia e basta diluir uma colher da substância em um copo com água após o café da manhã.
"O Viagra tem esse nome porque realmente dá uma animada no 'cabra', mas não serve apenas para apimentar as relações sexuais.
O Viagra regional também serve para dar mais energia no dia a dia, e de quebra ajuda no tesão", conta a vendedora Jaqueline Lobo.
O produto pode ser comprado no Mercado Adolpho Lisboa por preços a partir de R$10.
Banhos
Entre as poções amazônicas que fazem sucesso na banquinha de Jaqueline ainda estão os famigerados "banhos atrativos".
As misturas são preparadas e vendidas em garrafas de vidro, como: o banho de patchouli, o banho de erva e ainda a água de chama.
A intenção dos banhos não é só a de despertar atração sexual, mas de afastar a má sorte e atrair prosperidade na vida.
"Os turistas adoram esses banhos e é uma das mercadorias mais vendidas aqui na banca.
O ideal é tomar pelo menos três desses banhos, um a cada sexta-feira seguida.
Além de atrativo sexual, ele também é ótimo para afastar mal olhado e atrair dinheiro", garante a feirante que vende uma garrafa do preparado por R$ 15,00.
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